Tocar na ferida provoca Dores, no Indaiá






Por Ana Vargas
Anacvargas@hotmail.com

A Prefeitura Municipal de Dores do Indaiá, no Centro-Oeste de Minas, atualmente sobo comando do Sr. Joaquim Cruz, está sendo duramente criticada pela jornalista Ana Vargas, nascida na região, em decorrência de problemas gravíssimos ocorrendo, há anos e anos, no lixão da cidade. Vargas vê, entre outras coisas, indiferença e omissão por parte do órgão público ao permitir, no local da descarga do lixo, a presença rotineira de pessoas miseráveis, humildes e doentes, sobrevivendo de restos domésticos recolhidos em deprimente e constrangedora competição com urubus e nuvens de moscas.

Leiam,na íntegra, o apelo de Ana Vargas dirigido ao prefeito e ao povo de Dores:

“Diariamente recebemos mensagens dramáticas denunciando a miséria na África ou no Haiti, mas não precisamos ir tão longe para que nos sintamos sensibilizados e indignados diante das tragédias humanas. Da mesma forma, pessoas residentes no interior e que tanto valorizam a paz e até a abundância nas suas comunidades, costumam ver, com grande perplexidade, cenas de miserabilidade nas favelas do Rio, de São Paulo ou Belo Horizonte. Só que também neste caso não é preciso ir tão longe para se sentirem horrorizadas. Infelizmente, a miséria está em toda parte e não haveria de ser diferente aqui bem pertinho mesmo, no Centro-Oeste mineiro, mais precisamente em Dores do Indaiá.

Dores é minha cidade natal e sempre que posso me faço lá presente. Só que, a cada visita, minha perplexidade aumenta diante de certas situações. Uma delas, gravíssima e ainda sem solução, é a questão do lixo urbano.

Todas as cidades sofrem com a questão do lixo. Todos nós temos consciência de que o lixo gera problemas ambientais – a liberação de gases e odores, sempre emanando resíduos, é extremamente tóxica, o chorume gerado pela decomposição polui o solo e os lençóis freáticos; a visão de toneladas de lixo a céu aberto é uma das imagens mais deprimentes que alguém pode ver. Aquele “mundo” de urubus, moscas, animais decompostos, restos do consumo de todos nós – e faço questão de frisar: de todos nós – é, certamente, um soco no estômago de qualquer cidadão.

Mas, para além de tudo isso – da poluição causada por todo o processo de degradação do lixo a céu aberto (um verdadeiro filme de terror) – há outra questão muito mais grave, penso eu, que se desenrola ao lado dos lixões. Quase todas as cidades do Brasil e do mundo, que têm seus lixões devidamente escancarados à luz do dia (e de nossas consciências), tem também ali ao lado, pessoas que vivem – literalmente – do lixo.

Pessoas que há tanto tempo estão ali, que cresceram ao lado do lixo, criam os filhos ao lado do lixo, que sobrevivem do lixo e, que, talvez por isso, sejam tratadas pelas administrações públicas como lixo. Em muitos lugares isso acontece, mas falo especificamente de Dores do Indaiá, com profunda angústia, porque nesta minha cidade testemunhei tudo isso. Vi e senti.

Pessoas sensíveis ou delicadas não devem visitar lixões, eu me considerava assim até visitar o de minha cidade. Diante daquele cenário degradante de miséria e exclusão social interferindo diariamente na vida familiar das pessoas humilhantemente dependentes da coleta de rejeitos; diante de seres humanos humildes, miseráveis e doentes, iníqua e socialmente situados abaixo do nível de pobreza; eu me senti tão ou mais miserável que eles.

Quando eu vi uma menina, a Rainara, de sete anos, catando coisas no lixo; quando vi uma senhora que está acamada, há anos (coberta de moscas), e nuvens de insetos (não há exagero, é algo apavorante) cobrindo tudo: pessoas, móveis, o chão, o teto das casas (e quase entrando em nossas bocas enquanto conversávamos), senti-me na obrigação moral de fazer algo.

Essas pessoas têm nomes, como qualquer um de nós – e isto precisa ser ressaltado para nunca nos esquecermos de que elas são seres humanos iguais a nós; pode parecer patético, mas é fácil para alguns se esquecerem de que somos todos da mesma raça – são cidadãos (mas não são tratados como tal). O Adelson, o Marcos, a Geralda, a Kátia, a Maria José, a Jane; e as crianças: o Ítalo, a Rainara e outras, inclusive um bebê; todas essas pessoas vivem doentes, há anos, todas elas sobrevivem, sim, do lixo (haveria outra opção?), todas elas vivem nas casas que se vê nestas fotos, convivem com os urubus e moscas, diariamente, 24 horas por dia – em dias de calor, tente imaginar isso com bastante senso de realidade – levam os filhos aos postos de saúde, sabem que eles estão com doenças causadas pelos vetores do lixo (baratas, moscas, ratos e etc); não têm, é evidente, dinheiro para comprar remédios; não têm, certamente, atendimento garantido nos postos de saúde; enfim, é o ciclo (histórico) da exclusão se repetindo com todo o peso de sua intensa e implacável crueldade.

E é assim há anos e anos e anos...

Todas as pessoas que você, leitor, vê nas fotos autorizaram a divulgação de suas (tristes) histórias, pois esperam que assim, algo seja feito. Como jornalista, acredito que a divulgação de tais horrores pode sensibilizar as autoridades dorenses a tomarem uma atitude. Estas pessoas nos afirmam que inúmeras reclamações já foram feitas, insistentemente, mas Dores do Indaiá é uma cidade que, como tantas outras do Brasil, possui uma administração insensível a tais questões.

Não sou hipócrita a ponto de achar que o descarte de toneladas diárias de lixo seja algo tão fácil para uma administração, de qualquer cidade, solucionar do dia para a noite. Não sou sonhadora a ponto de achar que estas pessoas aqui retratadas terão a dignidade reparada quando (quando?) algo for efetivamente feito. Há vários entraves aí - sociais, educacionais, culturais etc. - mas acredito – sincera e piamente – que um pouquinho de vontade política pode mudar muitas coisas.

Bastaria que o prefeito, para começar, se preocupasse sinceramente, de fato, e de verdade, com o futuro da Rainara que, hoje, vive no lixo de Dores do Indaiá. Penso que se os políticos soubessem entender e exercitar, apenas um pouquinho, a prática do altruísmo, que é o sentido pleno de “humanidade” em todas as suas faces, colocando-se no lugar daqueles infortunados, pensando que seu filho ou seu neto poderiam ser aquela criança; seu pai ou mãe, aquela idosa coberta de moscas na cama; acho que se isso ocorresse – para além de qualquer demagogia, utopia ou teoria política – problemas (sempre passados para administração seguinte) como o lixão de Dores do Indaiá, não existiriam.

Um exercício de humanidade: que tal, Senhor Prefeito de Dores do Indaiá? Faça uma visita ao lixão, converse com aquelas pessoas; interesse-se por elas. Será tão difícil assim criar uma comissão para resolver – de uma vez por todas – este problema que depõe contra a municipalidade?

Este é um apelo –público – que faço ao prefeito de Dores do Indaiá.

Também é um apelo aos dorenses, em geral, os cidadãos conscientes, que votam e elegem outras pessoas para tomarem decisões políticas. Lembrem-se: vereadores e prefeitos são, antes de tudo, funcionários do povo. Seus mandatos são procurações temporárias que lhes conferem poderes no sentido de que devolvam, com muito trabalho, o poder a eles concedido”.

* Inúmeras denúncias relacionadas à gravidade do caso, já foram protocoladas na Secretaria do Desenvolvimento Regional, do governo mineiro, pelo Sr. José Alves da Costa, morador do bairro e cidadão na exata definição da palavra; ao SUS; à Fundação Estadual do Meio Ambiente e à Anvisa. Promessas foram feitas, mas nenhuma solução foi apresentada até o momento.




Fonte: Blog do Wolney Garcia - Jornalista

Comentários

  1. A impressão que tive na última visita a Dores, é que ela está abandonada, não nem sobra do que já foi no passado.

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  2. Em breve será solucionado a questão do lixo,ja esta funcionando usina de reciclagem. Ambiantalistas competentes a Senhora Cristina Matos e senhora Mara Gonçalves estão supervesionando o trabalho de 20 funcionários na reciclagem do lixo.
    Derly Fernando Araújo

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  3. Visite Dores do Indaiá antes que acabe em lixo.

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  4. Dores do Indaiá, precisa urgente de Prefeito e vereadores. Que não pense somente em se dar bem a custa das desgraça dos outros. O salario deles é o povo que paga.

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  5. Dores do Indaiá,esta a merce das cobras.

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  6. prefei otari ajuda os caderandi lixo

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